PROJETO DE PESQUISA (atual)
Sobre
Comunicação e Territorialidades Sônico-Musicais na Cidade do Rio de Janeiro
Resumo: Em linhas gerais, nesta investigação se buscará avaliar a importância das atividades musicais realizadas ao vivo e nos espaços públicos e privados por artistas, coletivos e/ou redes sociais – na forma de concertos, blocos, rodas ou festas – para a ressignificação da metrópole do Rio de Janeiro, isto é, vai se procurar analisar sua capacidade em contribuir para converter estes territórios em espaços mais democráticos (com melhores níveis de inclusão e participação social) e até com algumas dinâmicas mais interculturais. Parte-se do pressuposto de que há uma “cultura musical” nestas localidades, praticada por diversos atores (a grande maioria deles engajados) e que é capaz de criar condições não só para a ampliação das sociabilidades, mas também para a ressignificação inovadora dos espaços dessas cidades.
Assim, nesse contexto, a música executada especialmente no período do happy hour – tocada e performada nesta “temporalidade” vem gerando “ambiências” marcadas por intensa sociabilidade nos espaços urbanos – é avaliada pela literatura especializada como sendo um ingrediente relevante do projeto neoliberal para a construção de cidades criativas: conduzindo a transformação dessas localidades em territórios menos voltados para o bem-estar social da população e mais propícios prioritariamente aos negócios, consumo cultural e turismo. Ao mesmo tempo, esses estudos em geral têm considerado as festas e apresentações musicais que são realizadas no registro do regime noturno como sendo de natureza mais transgressora; isto é, têm sido recorrentemente reiteradas assim no imaginário urbano.
Partindo de um denso trabalho de campo que rastreará os atores nas suas reagregações que gravitam em torno de atividades musicais – cartografando as suas controvérsias –, esta investigação proposta buscará problematizar essa interpretação reducionista, colocando em evidência a existência de variadas iniciativas que se realizam no período híbrido do happy hour, algumas delas inclusive organizadas em rodas e festas menos visíveis e mais informais (até clandestinas), as quais têm um perfil muitas vezes dissensual, não só ocupando os espaços públicos intersticiais da urbe e/ou casas de espetáculo da cidade gentrificada, mas também acionando um conjunto de táticas e astúcias relevantes.
Essas tramas musicais realizadas no happy hour possibilitam – mesmo em um contexto de precarização, exclusão e ampliação da violência no espaço urbano das cidades globalizadas neoliberais – que os atores concretizem, ainda que parcialmente, o seu direito à cidade, através da construção recorrente de territorialidades sônico-musicais, subsidiando assim a ressignificação do seu cotidiano e a reafirmação de valores e códigos sociais associados a uma agenda mais progressista (frequentemente sintonizada com o debate que envolve as minorias que se identificam como grupos LGBTQIA+). Parte-se da premissa de que o campo da comunicação tem uma importante contribuição a dar neste momento, isto é, pode subsidiar com suas reflexões a construção de renovadas políticas públicas locais mais endógenas e democráticas. Esta investigação será realizada no Núcleo de Estudos e Projetos em Comunicação e está vinculada a linha de pesquisa intitulada Mídia e Mediações Socioculturais, do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da ECO/UFRJ.